SnapprSnappr

Não me vou alongar muito em apresentações, o Snappr para quem não conhece, é um marketplace de fotógrafos freelancers disponíveis na nossa área de residência (overseas pois claro), por especialidade, rating e preço. 

A grande ferramenta de marketing do Snappr foi criar o Snappr Photo Analyzer, uma ferramenta de análise gratuita da nossa foto de perfil para o Linkedin.

Ontem, em conversa com o Pedro Camarez, O Guru no que se trata de marketing digital, surgiu novamente em conversa esta ferramenta.

Honestamente não a vejo como uma ferramenta que faça concorrência ao meu trabalho, muito pelo contrário, é excelente para sensibilizar o público sobre alguns pontos a ter em consideração quando utilizamos uma foto para promover a nossa identidade. Assusta-me sim quando vejo pessoas obcecadas em subir a pontuação da sua foto, pois trata-se de um algoritmo, e como tal, carece da complexidade de análise do seu potencial recrutador ou cliente.

Tendo sofrido cyberbulling por manter este parecer, decidi dar uma oportunidade ao software de se defender, vamos a isso:

Opá, eu que me achava todo bonito e a comunicar com a minha foto, fiquei logo de rastos com o "suficiente" que o software me atribuiu. 

Caramba, chumbei logo na expressão facial, devia sorrir mais diz o software, mostrar os dentes e fazer covinhas, mas tudo qb, não vamos mostrar muita alegria que também não é bom diz o software. Mas não está mal, numa análise superficial e genérica, concordo.

Chumbei em composição, quis ser mais arrojado, agarrei-me à questão de ter pelo menos 60% da área da foto com a cara e artisticamente ignorei a regra dos terços. O fundo escuro parece não agradar o software, tenho as minhas reservas quanto a isto, sei que devemos usar fundos claros quando oferecemos serviços onde a transparência é crucial, mas não se torna relevante na minha profissão e muitas vezes temos o contraste necessário com a indumentária clara, trazendo mais relevância à cara.

Parece que nisto da edição é que sou bom. Tendo a foto um ligeiro tom sépia, passei com distinção no contraste, brilho, saturação e temperatura de cor (sério?). Falhei na nitidez, com uma câmara profissional e o Adobe Photoshop. Honestamente acho este quadro de análise é irrelevante e apresenta um algoritmo fraco. Obviamente não coloquem uma foto em péssimas condições de luz ou que já tenha passado "n" vezes pela compressão do Facebook ou outras ferramentas que comprimem em exagero a fotografia.

E por fim é apresentada a ferramenta, denominada o Uber dos fotógrafos (bom e barato?) e podemos pesquisar um pouco como se pede um orçamento e acedemos ao perfil dos fotógrafos mais "tcharan" em pontuação. Varri os perfils e achei que as fotos de cada um teriam menor pontuação que a minha, encontrei muitos fotógrafos de casamentos, moda e outras áreas, menos com o foco em fotos de perfil corporativas.

Quando falo de foto corporativas, não significa fatos e gravatas, um Chef apresentar-se visualmente com uma jaleca faz todo o sentido. E não acredito que o sorriso seja uma presença obrigatória, num jornalista podemos associar a seriedade do rosto ao rigor, não sendo o mesmo comunicar para procurar emprego ou dar a cara por uma estação de televisão.

Bem, vamos então desconstruir a aplicação, pois a análise de uma imagem não permite identificar um padrão, ou falhas de análise. Comecei por analisar um dos 100 retratos mais icónicos do século passado, onde o fótografo Yousef Karsh retratou Winston Churchill em Dezembro de 1941, justo pouco depois do ataque a Pearl Harbor e da entrada dos Estados Unidos na segunda guerra mundial. O estado de espírito do então Primeiro-ministro do Reino Unido e oficial do Exército Britânico, apanhado de surpresa por esta sessão, era de total indiferença para com o fotógrafo. Como forma de provocação e após ter o equipamento preparado para a fotografia, Yousef aproximou-se de Churchill pedindo desculpas e retirando o cigarro da sua boca. Esta foi a foto que resultou, de alguém agastado com a situação mas que reflete lindamente a figura histórica de quem estamos a falar.

Para meu espanto a fotografia chumbou o teste do algodão. Apesar do ar severo, teve melhor pontuação na expressão facial que eu, mas chumbou na edição onde eu passei com distinção. A elação que quero retirar aqui é que a expressão deve variar consoante o uso e audiência com quem queremos comunicar.

Não fotografo da mesma forma um recém licenciado em Direito à procura do primeiro emprego ou estágio e um advogado para uma sociedade. Na primeira situação vamos passar o escrutínio dos recursos humanos, que avaliam características como a integração em equipa, empatia e disponibilidade para aprender, enquanto no segundo caso procuramos alguém que nos defenda e resolva o nosso problema, alguém com características como a força, foco e agressividade.

Começamos a ter boas notas, mas o software analisa ponto a ponto e as notas são parciais. Não aconselho um Pikatchu de fundo, atraindo toda a atenção e obrigando enquanto lê estas palavras a voltar a olhar para a fotografia para recordar a cara do retratado.

Ufa, num retrato corporativo em ambiente de estúdio do Eng. Fernando Pinto tive pouco mais pontuação que no retrato anterior, realizado em ambiente descontraído no âmbito da fotografia de uma banda. Para mim o software falha rotundamente na análise de indumentária, fundamental para enquadrar o cv com a audiência que pesquisa. Pode parecer parvo, mas um headhunter vai entrar no perfil de um gestor de topo vestido com fato e sem gravata e num com t-shirt, mesmo que este tenha uma palete de MBA's e Doutoramentos. Está provado que em situação de currículos semelhantes, o peso da primeira impressão é fator de decisão.

I rest my case. Fui humilhado por uma miúda com um coelho num ambiente de alfazemas. Realmente ela mostrou os dentes e um sorriso aberto. Agora a sério, utilizem o software apenas como referência para avaliar pequenos detalhes, o bom senso humano ainda é bastante superior a análise de um software.