Qual é a câmara que me recomenda? Esta é uma pergunta que me fazem recorrentemente e para a qual não existe uma resposta. Consoante a utilização que será dada, vamos ter dezenas de soluções que vão das compactas, com uma concorrência cada vez mais feroz dos telemóveis, até sistemas reflex que podem custar milhares de euros. O mais recente formato a entrar nesta corrida é o formato mirrorless, um híbrido entre a compacta e a reflex, trazendo um equilíbrio para o uso amador e profissional.

Antes de entrar pelas especificações das câmaras mirrorless, deixo um pequeno vídeo que fiz, de apresentação da Fujifilm X-T20, a câmara que me parece ser a resposta acertada para 99% das pessoas que me fazem a pergunta acima. Compacta, com um design retro, uma gama de lentes excelente, a Fujinon X  com vídeo 4K e 23 mp de resolução é a resposta ideal para quem quer qualidade, facilidade de uso e material portátil, ora vejam:

Apesar de apenas se ter ouvido falar nas câmaras mirrorless no mercado de grande consumo nos últimos três anos, este formato já tem pelo menos uma década no mercado profissional, tendo feito avanços significativos para chegar à oferta que temos hoje. Marcas com a Fujifilm, Sony e Olympus apresentam soluções bastantes interessantes.

O sistema mirrorless, como o próprio nome indica, carece de um espelho, permitindo diminuir significativamente o tamanho do corpo, mas esta ausência também fez o barulho do espelho a subir e descer no momento do click desaparecer, permitido a sua utilização onde queremos passar desapercebidos, como por exemplo em street photography.

Sara sabe melhor do que ninguém o peso que temos de levar para cada sessão :-)

Mas não é só o tamanho a principal diferença entre uma mirrorless e uma reflex, o seu design retro que nos transporta ao passado, remetendo a modelos como a Canon AE-1 ou a Nikon FM2, faz com que sejam ainda mais apetitosas. 

Não nos deixemos enganar pelo tamanho e a carcaça retro, são câmaras dotadas de transferência de ficheiros por wireless para o telemóvel ou tablet, controlo remoto da câmara também através destes dispositivos, fotografia com excelente resolução, vídeo a 4K e a tecnologia mais recente de focagem e sensibilidade ISO. 

Só as características acima já fazem dela o substituto ideal das câmaras compactas e dos telemóveis, pois permitem utilizar uma vasta gama de lentes, grandes aberturas e ao mesmo tempo alimentar as nossas redes sociais sem a necessidade de um computador.

Mas nem tudo são rosas, as câmaras mirrorless apresentam um passado recente, havendo um mercado de lentes e acessórios mais reduzido que as reflex, um consumo de bateria mais elevado e no que toca a preço das lentes, não acompanha o tamanho das mesmas.

Uma vez feita a introdução a este formato, vamos ver tópico a tópico.

Tamanho

A redução do tamanho e consequentemente do peso não são apenas uma questão de portabilidade, que por si já assume um peso importante na escolha deste formato, mas traz consigo uma redução na distância entre o sensor e o encaixe de lentes

Esta distância determina a arquitetura das lentes por marca e impossibilita a utilização, através de adaptadores, de certas lentes de uma marca num corpo de outra marca. Por exemplo, a distância das Nikon F são 46,5mm e a das Canon EOS 44mm, não permitindo utilizar um adaptador de lentes Canon para Nikon (sim, todos já tivemos aquele sonho de usar a Canon 50mm f/1.0).

As boas notícias é que ao ser a distância menor, podemos através de um adaptador, utilizar as nossas lentes de formato DSLR numa mirrorless, perdendo apenas o foco automático e fazendo a devida conversão da distância focal e abertura consoante o tamanho do sensor.

Se gosta de foco manual e tem um bom espólio de lentes, procure os adaptadores e no caso de ter alguma questão, não hesite em procurar ajuda especializada.

Sensor

Muito se fala hoje em dia no tamanho do sensor, talvez até bastante mais do que se deveria, sendo na maioria dos casos um fator secundário face a outras condições a avaliar ao adquirir material. Mas voltando ao que interessa, quando falamos em distâncias focais e aberturas, podemos cair em erro ao achar que uma 50mm f/1.4 APS-C equivale a uma 50mm f/1.4 full frame.

No caso da Fujifilm X-T20, onde o sensor é um 23.6mm x 15.6mm(APS-C), uma lente 35mm f/1.4 equivale a uma 52,5mm f/2.1. Desta forma, quem vem do full frame ou de qualquer outro formato, pode assim perceber e equiparar as lentes que pretende, não caindo no erro acima mencionado. A aplicação mmCalc ajuda nessas contas.

Viewfinder

O viewfinder, ou o visor, é provavelmente a maior diferença entre uma câmara DSLR e uma mirrorless. Enquanto que a DSLR, através e um jogo de espelhos, permite-nos ver através da lente, tecnologia denominada TTL (through the lens), uma mirrorless utiliza um visor electrónico, denominado EVF.

A grande vantagem do EVF é que já vemos através do visor as condições em que vamos fotografar, através da abertura, ISO e distância focal escolhidas. Isto é excelente para quem se está a iniciar na fotografia e pode assim esquecer o fotómetro, o maior dos pesadelos nesta etapa.

O modelo X-T20 por exemplo conta com simulação de película, introduzindo as tonalidades e ruído do filme, com películas como a Provia, Velvia ou o preto e branco ACROS, e neste formato já são visíveis na pré-visualização do que vamos fotografar.

Tanto a utilização do EVF ou do LCD são possíveis, permitindo fotografar através do EVF como utilizando a câmara a uma distância maior e observar através do LCD, ideal para realizar planos em movimento em vídeo.

As desvantagens desta tecnologia são claramente o consumo de bateria e o pequeno delay entre o que se está a passar e a respectiva "filmagem" e reprodução no EVF ou LCD para quando vamos fazer o click.

Auto Foco

As câmaras DSLR utilizam a tecnologia de deteção de fase enquanto que a maioria das câmaras mirrorless utilizam foco por contraste.

A grosso modo, a focagem por deteção de fase tirar partido do espelho, dividindo a luz que entra pela objetiva num par de imagens e comparado as mesmas. Quando em foco, a luz de ambos os lados da lente converge para criar uma imagem focada. No entanto, quando não está em foco, as imagens projetadas pelos dois lados da lente não se sobrepõem, estando fora de fase.

A focagem das mirrorless por outro lado avaliam o contraste entre pixels adjacentes e vai ajustando o foco até encontrar o maior contraste possível. Esta técnica tem a desvantagem de ser mais lenta e ter maior dificuldade em condições de pouca luz que a deteção de fase.

Video

No que toca a vídeo, podemos dizer que tanto as DSLR como as mirrorless estão taco a taco. Na sua maioria grava em HD, algumas em 4K com uma qualidade impressionante. 

As mirrorless já contam também com saída HDMI, permitindo visualizar em monitor em tempo real.

É raro ver um videografo a trabalhar com DSLR e acredito que em grande parte se deve a portabilidade do material. Filmagens podem ser extenuantes, mas transportar todo o equipamento envolvido pode ser uma tarefa ainda mais ingrata. Ora vantagem que observo no tamanho reduzido é poder colocar as câmaras nos lugares mais improváveis e obter assim planos diferentes.

Wireless

Tanto as DSLR como as mirrorless contam com esta tecnologia embebida nos modelos recentes, no entanto ainda utilizo equipamento externo nas minhas Nikons D800, D3 ou D700, pois na altura do seu lançamento era um acessório.

As redes sociais são uma realidade que não podemos negar, quer para uso pessoal como profissional, com frequência vejo-me em situações onde a partilha imediata é um requisito. Se assim não fosse, o telemóvel não teria sido alvo de tanto desenvolvimento a nível óptico, no entanto e por condições físicas, nunca será possível obter imagens com um bokeh ou qualidade de foco como numa câmara.

Há outra característica importante na ligação da câmara aos dispositivos móveis, a possibilidade de controlar remotamente a câmara, permitindo filmar ou fotografar em locais improváveis, ou à distância, deixando de assustar a nossa presa.

A selfie certamente irá ganhar novos contornos com esta tecnologia, mas acima de tudo, o fotógrafo da família pode aparecer nas fotos, deixado de estar ausente no álbum de família.